Nos últimos anos, tem-se observado uma tendência preocupante entre a população brasileira: a diminuição do consumo de leite de vaca, acompanhada de questionamentos sobre os benefícios para a saúde desse crucial alimento.
Essa alteração de comportamento é motivo de destaque, visto que o leite é reconhecido por sua relevância nutricional, sendo considerado uma fonte de nutrientes que desempenham papel fundamental na composição de uma dieta equilibrada e no estímulo ao crescimento saudável.
Sendo assim, a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN) a pedido da Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida (ABLV), concordaram em buscar esclarecimentos sobre o tema, que estão apresentados sob a forma do presente consenso, auxiliando no esclarecimento das principais dúvidas existentes sobre o assunto com base em evidências científicas robustas e atuais, trazendo uma análise crítica dos estudos disponíveis no formato de perguntas e respostas.
Aqui, neste post serão expostas as sete perguntas e respostas que nortearam o consenso.
1. O leite de vaca é próprio para o consumo humano?
Sim. O leite de vaca não apenas é próprio para o consumo humano, como também se configura em fonte relevante de nutrientes, principalmente cálcio e proteína.
As proteínas do leite, por seu perfil de aminoácidos indispensáveis, são classificadas como de alto valor biológico pela FAO (Food and Agriculture Organization).
Já em relação ao cálcio, o leite de vaca conta com um alto percentual de absorção, tornando-o a principal fonte deste mineral.
2. Quais os reais benefícios associados ao consumo do leite de vaca em diferentes fases da vida?
Os produtos lácteos desempenham múltiplas funções. Os benefícios associados ao seu consumo em diversas faixas etárias estão relacionados à sua elevada densidade nutricional, oferta de proteínas, cálcio e componentes com propriedades funcionais. Esses benefícios incluem o apoio ao adequado crescimento e desenvolvimento ósseo durante a infância e adolescência, a redução do risco de osteopenia e osteoporose, a diminuição das chances de desenvolvimento de doenças crônicas (como diabetes e obesidade), cardiovasculares e hipertensão, além de contribuir para a prevenção de quadros de sarcopenia durante a senescência.
Aqui vale destacar que o consenso afirma que as informações trazidas se referem ao consumo de leite de vaca para crianças a partir de um ano de idade, adolescentes, adultos e idosos. Entretanto, o leite de vaca só deve ser oferecido a crianças a partir de um ano na impossibilidade do aleitamento materno, sendo que este deve ser ofertado exclusivamente até os seis meses de vida e, de forma complementada até os dois anos de idade.
3. Qual a relação entre leite de vaca e inflamação?
Até o momento, não existem evidências científicas de que o leite e derivados sejam “inflamatórios”. Na realidade, o leite pode até mesmo ter um efeito anti-inflamatório, melhorando os biomarcadores associados a este processo.
A única exceção é para o caso de pacientes diagnosticados com alergia à proteína do leite de vaca (APLV). Para estes indivíduos, o consumo de qualquer quantidade de leite e derivados deve ser excluído.
4. O consumo de leite de vaca aumenta o risco de intolerância à lactose? É necessário que pacientes diagnosticados com essa condição eliminem completamente o leite de sua dieta diária?
Não, o consumo de leite de vaca não está associado a um maior risco de desenvolvimento de intolerância à lactose. Pelo contrário, existe uma relação inversa, onde um maior consumo de leite está relacionado a um menor risco de desenvolvimento de intolerância à lactose. A exclusão do leite com base na autopercepção de intolerância, muitas vezes não confirmada por diagnóstico clínico, representa um prejuízo nutricional. Além disso, mesmo para pacientes diagnosticados com intolerância, geralmente é tolerada uma quantidade de até 12 g de lactose sem a manifestação de sintomas.
5. Quais são os tipos de leite de vaca disponíveis?
Os diversos tipos de leite disponíveis no mercado se distinguem principalmente pelo teor de gordura (integral, semidesnatado e desnatado), pela adição ou exclusão de nutrientes específicos, e pelo tratamento térmico utilizado em sua fabricação (pasteurizados e ultrapasteurizados - UHT). É importante destacar que a escolha de cada tipo de leite deve ser avaliada de forma individualizada.
6. O consumo do leite de vaca UHT é seguro?
Sim, o leite UHT é submetido a um processo altamente seguro e validado desde meados do século 20. O tratamento térmico, seguido por resfriamento e envase em embalagens assépticas ("longa vida"), asseguram uma durabilidade prolongada do alimento, dispensando a necessidade de refrigeração antes da abertura do produto. Esse método preserva a qualidade e a segurança microbiológica do leite, resultando em um produto microbiológica e nutricionalmente seguro.
7. Quando e para qual público devo orientar o consumo de leite de vaca?
Com exceção de condições muito específicas, todos podem consumir o leite de vaca. Esta bebida é recomendada por guias alimentares nacionais e internacionais, e pode ajudar no aporte de nutrientes como o cálcio.
Para finalizar, podemos concluir que o consumo de leite de vaca revela-se como uma fonte valiosa de nutrientes essenciais, com benefícios associados à densidade nutricional, oferta de proteínas e cálcio. O consenso destaca que as orientações dietéticas devem ser sempre individualizadas, o que reforça a importância do profissional de saúde, e na minha opinião, a importância do nutricionista, para a realização de uma intervenção dietética adequada.
Leia o documento na íntegra:
Associação Brasileira de Nutrologia, Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição. Consenso da Associação Brasileira de Nutrologia e da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição sobre o consumo do leite de vaca pelo ser humano . Setembro, 2023. Disponível em: https://abran.org.br/media/files/abran_consenso_leite.pdf. Acesso em 21/11/2023
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