Autor: Lucas Romariz Paitl - Graduando em Nutrição pela Unigran Capital.
“Por que você não troca o açúcar pelo adoçante?” . Quem nunca ouviu ou até mesmo já falou essa frase para alguém.
Muitas pessoas fazem a troca porque o adoçante não tem caloria e o açúcar tem, mas só isso não basta.
Na área da saúde, adoçar sempre foi um motivo de preocupação porque o acréscimo de açúcar, gordura e sódio está cada vez mais presente nos alimentos em geral. Esse aumento acelerado faz com que a taxa de obesidade populacional também aumente vertiginosamente, sendo um fator muito preocupante, com a necessidade de acompanhamento constante. Não à toa que esta condição possui até um CID próprio, o E66.
Dados científicos
Uma pesquisa feita em 2019 pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e síndrome metabólica (ABESO) esclarece a questão: “No Brasil, essa doença crônica aumentou 72% nos últimos treze anos, saindo de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019.” (ABESO 2019).
Em Campo Grande/ MS, dados de um estudo epidemiológico observacional transversal descritivo quantitativo realizado em 2021, identificou o grau de obesidade e sobrepeso em adultos e os dados são assustadores, veja (GRÁFICO 1).
Práticas errôneas como (comer fora de hora, comer em frente a televisão, fazer trocas erradas só verificando a caloria dos alimentos, trocar grandes refeições por lanche), feitas diariamente, levam ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.
Os adoçantes
Os edulcorantes (também chamados pela população de adoçantes) estão presentes nos cardápios, não só de diabéticos como dos indivíduos que buscam uma redução calórica em sua dieta, mas também para substituição do açúcar em algumas receitas. Com até 300 vezes (dependendo da metodologia de análise) mais poder adoçante que a sacarose, os adoçantes dietéticos são amplamente utilizados por nutricionistas em suas prescrições.
Essa prática visa principalmente melhorar a adesão a dieta, afinal, remover completamente o sabor doce de um paladar degradado pelo excesso do mesmo pode ser traumático para alguns pacientes e um impeditivo para que prossigam corretamente com o tratamento.
Descoberta em 1879 por Constantin Fahlberg no laboratório da Universidade Johns Hopkins (Baltimore), a sacarina é o primeiro adoçante que se tem registro e ao longo dos anos, outras substâncias foram sendo descobertas e sintetizadas.
Os edulcorantes são classificados como sintético ou naturais. Os naturais, como o nome já sugere, são extraídos de plantas como por exemplo o Sorbitol, este é retirado de algas marinhas ou frutas como a maçã e a ameixa. Já a Stevia é extraída de uma planta nativa da América do Sul conhecida como stevia rebaudiana. Os sintéticos são feitos a partir de reações químicas e os mais utilizados são a Sacarina, Aspartame e o Acessulfame K.
A indústria alimentícia acompanhou a necessidade populacional pela crescente preocupação desses consumidores em relação as substâncias que estão consumindo, assim, os produtos com a rotulagem LIGHT e DIET começaram a chegar nas prateleiras dos mercados.
Com poucas diferenças entre si, os produtos LIGHT são submetidos apenas a uma redução no teor de sódio, açúcares, gorduras ou colesterol. Na versão DIET temos a remoção total de um ou mais ingredientes citados.
Exemplo prático
Na última década, ganharam notoriedade os produtos ZERO, que assim como os DIET, se abstém de ingredientes específicos. Para ilustrar essa comparação, usaremos como exemplo, a COCA-COLA ZERO, a coquinha amiga da dieta. Amplamente utilizada não apenas por diabéticos, mas também por pacientes em dieta.
A empresa alega no rótulo possuir zero açúcar e conter 0 kcal em uma porção de 200ml, no entanto, olhando o rótulo com mais atenção, em sua lista de ingredientes, encontramos: água, dióxido de carbono, corante: caramelo E-150d, edulcorantes: ciclamato de sódio, Acessulfame K e Aspartame, acidificante: Ácido fosfórico, aromas naturais (incluindo cafeína) e regulador de acidez: Citrato de sódio.
Como o objetivo aqui é falar um pouco sobre estes em específico, vamos analisar a rotulagem nutricional.
O primeiro ponto a ser levado em consideração é a dosagem máxima recomendada de cada substância. Para sermos mais diretos vamos olhar as quantidades de cada um dos Edulcorantes presentes no refrigerante. Segundo a tabela da United States Recommended Daily Allowance (USRDA), a dosagem máxima diária de cada um dos é:
De acordo com uma pesquisa feito pelo Instituto de defesa do consumidor (IDEC), onde relacionaram as quantidades de Edulcorantes presentes em bebidas, a COCA-COLA ZERO aparece com os seguintes valores:
Olhem os dados:
Se uma criança consome uma lata de 200mL de COCA - COLA ZERO, ela estará consumindo substâncias que o seu organismos não precisa e cruzando os dados das tabelas apresentadas, é possível concluir que as doses para essa porção da bebida não extrapolam as quantidades máximas recomendadas, no entanto vários outros alimentos ultraprocessados também apresentam as mesmas substâncias e é aí que mora o perigo.
Abaixo você encontra alguns trechos importantes retirados de publicações científicas
Para além do simples fato de não consumirmos as doses máximas devemos novamente, nos preocuparmos com todos os fatores que envolvem o consumo crônico desses aditivos.
Estudos recentes demonstram que o consumo de adoçante de forma regular, tem diferentes impactos sobre o desenvolvimento na microbiota dos animais e essas alterações podem acarretar efeitos deletérios a saúde.
O trecho abaixo foi retirado de um artigo publicado na Revista Virtual de Química e traz algumas informações interessantes sobre o consumo de adoçantes em testes feitos em animais.
O consumo de Acessulfame K.
(...) na Universidade de Geórgia, realizaram testes com roedores em uma dose de 37,5 mg/Kg/dia do adoçante por um período de quatro semanas. Analisandos os resultados, foi possível observar que eles apresentaram significativo aumento de peso. Além disso, verificou-se que a ingestão de acessulfame-K provocou o aumento de bactérias no intestino dos animais alterando significativamente a composição da microbiota intestinal.
Posteriormente, constatou-se que o consumo do adoçante favoreceu a ocorrência de alterações genéticas, isto é, o decréscimo dos genes envolvidos no metabolismo energético (RIBEIRO et al. 2020, p.20)
Sobre o ciclamato de sódio.
(...) O adoçante ciclamato de sódio é de 30 a 40 vezes mais doce que a sacarose, sendo ingestão diária máxima aceitável de 11 mg/Kg da substância. Ele, por si só, apresenta baixo nível de toxicidade. Entretanto, ao ser metabolizado pelas bactérias intestinais, forma-se cicloexilamina, aumentando significativamente o nível de toxicidade do adoçante em questão e podendo causar efeitos nocivos à saúde (RIBEIRO et al. 2020, p.25).
E por fim sobre o Aspartame.
(...) Estudos realizados com roedores revelaram o potencial carcinogênico (linfoma, leucemia, tumores do trato urinário e tumores neurológicos) do aspartame em uma dose diária de 20 mg/kg, mesmo sendo a ingestão diária máxima aceitável de 40 mg/kg de peso corporal. Segundo estes mesmos estudos, há também forte associação com diabetes tipo 2, parto prematuro, nefrotoxicidade, hepatoxicidade e alterações histopatológicas nas glândulas salivares (RIBEIRO et al. 2020, p.18)
É valido ressaltar que o objetivo desta discussão é apenas alertar a possíveis efeitos nocivos à saúde. Sem dúvidas, utilizar um edulcorante pode ser uma ferramenta extremamente útil para pessoas que necessitam passar por uma reeducação alimentar. Facilitar o caminho ajudará na adesão ao novo plano alimentar e consequentemente ao sucesso. É de responsabilidade do nutricionista analisar cada paciente individualmente e decidir qual é a melhor conduta a ser tomada em cada caso.
Até a próxima!
FONTES:
ABESO. Obesidade e síndrome metabólica. Disponível em: https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/mapa-da-obesidade/. Acesso em: 20 março 2023.
ALBULQUERQUE, Giovanna Sertic. Rótulo nutricional: importância de interpretar corretamente e ensinar os seus pacientes. Disponível em: https://www.sanarsaude.com/portal/carreiras/artigos-noticias/colunista-nutricao-rotulo-nutricional-importancia-de-interpretar-corretamente-e-ensinar-a-seus-pacientes. Acesso em: 20 março 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. VIGITEL Brasil 2020. VIGILÂNCIA DE FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO PARA DOENÇAS CRÔNICAS POR INQUÉRITO TELEFÔNICO. Estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2020. Brasília, DF, 2021.
COCA COLA. Qual é a diferença entre a coca-cola e a coca-cola sem açúcar. Disponível em:
https://www.cocacolabrasil.com.br/pergunte/qual-a-diferenca-entre-coca-cola-e-coca-cola-sem-acucar-. Acesso em: 20 março 2023.
DANTAS, Natalie Marinho. Alimentos diet e light zero o que significam. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/RFCMS/article/view/8927/pdf .
https://www.fsp.usp.br/crnutri/index.php/2017/01/11/alimentos-diet-light-zero-o-que-significam/ Acesso em: 20 março. 2023.
IDEC. De olho nos adoçantes. https://idec.org.br/em-acao/revista/risco-zero/materia/de-olho-nos-adocantes.Para acessar: <http://www.idec.org.br/pdf/edulcorantes-bebidas-abril-2015.pdf.
MAGALHÃES, Tânia Daniela Machado. The impact of non-nutritive sweeteners on gut microbiota: insulin resistance. Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto Porto, 2017. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/106542/2/205841.pdf . Acesso em 20 março 2023.
ROSSINI, Eloá et al. Adoçantes Presentes na Formulação de Refrigerantes, Sucos e Chás Diet e Light. March 2007. Revista da Faculdade de Odontologia, Pôrto Alegre 48(1/3):5-11. Disponível me:
https://www.researchgate.net/publication/275275553_Adocantes_Presentes_na_Formulacao_de_Refrigerantes_Sucos_e_Chas_Diet_e_Light. Acesso em: 20 março 2023.
RIBEIRO, T. R.; PIROLLA, N. F. F.; NASCIMENTO-JÚNIOR, N. M. Adoçantes Artificiais e Naturais: Propriedades Químicas e Biológicas, Processos de Produção e Potenciais Efeitos Nocivos. Revista Virtual de Química, v. 12, n. 5, p. 1-41, 2020.
< http://static.sites.sbq.org.br/rvq.sbq.org.br/pdf/RVq180820-a1.pdf>
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